Já foi dito antes, inclusive por mim, mas nenhuma obra antes me tocou como essa, assim como talvez nenhuma laje jamais tocou uma empena como no Mube.
É preciso fazer cantar os pontos de apoio? O museu já seria genial enquanto praça (afirmação digna de Erick Riul). Não fossem os olhares confusos do zelo,não fosse a grade, ele seria ainda essa praça.
A luz. A gentileza. A escala do homem. A harmonia. A escala do concreto. A tecnologia. A escala da ousadia. Ah, a escala.
A intervenção é no antigo Liceu de Artes, de Ramos de Azevedo, transformando-o na Pinacoteca do Estado, de intervenção de Paulo Mendes da Rocha.
Alguns críticos do restauro podem dizer que essa intervenção descaracteriza o edifício, já que talvez um leigo desinformado não saiba que as entradas principais foram invertidas e que possam imaginar que o edifício possui aquele aspecto “descascado” desde os tempos de sua construção ou até mesmo pelas marcas do tempo, mas eu gostaria de dizer: “E daí?”
A proposta de Paulo Mendes da Rocha foi “substancial” como diria a amiga nota 100 Rachel Beatriz.
Então eu uso aqui um trecho de um texto meu de quando ainda desconhecia o espaço:
“Acredito que, intencional ou não, o diálogo entre velho e novo existe na Pinacoteca do Estado de São Paulo, que a interpretação espacial do projeto classicista, seguido de ricas modificações, só pode existir se o diálogo existir, que a compreensão do potencial escondido no preexistido – tornando possível trazê-lo à tona – é fruto dessa dialética, que claramente aparece nas permanências de qualidades intrínsecas ao período anterior e em sua comunicação com as alterações propostas para que a arquitetura responda às necessidades de um programa contemporâneo.”
E me reafirmo, conhecedor agora, dizendo que o edifício agora é um corpo único todo segmentado. As clarabóias nos pátios oferecem a unicidade e as passarelas conferem o dinamismo inerente ao evento. “Tem gente pra todo lado” (esquerda, direita, pra cima, pra baixo). Usam-se os pátios hoje, usam-se as entradas laterais hoje, usa-se o vazio hoje. O vazio que só pertencia ao vazio, ao pé-direito. Pude então atravessar o edifício “como só as andorinhas podiam”.
E como não pude deixar de notar em todos os edifícios que me chamaram atenção redobrada: quanta luz! Tanta luz! Luz tanta! Luz até a estação.
O passeio feito pelo centro da cidade me mostra como é fácil andar em São Paulo. O experimento sensorial do espaço urbano é único e a diversidade incalculável. Embora eu quisesse expressar todas as impressões causadas, vou ocultar boa parte delas e me ater aos edifícios observados (modernos).
Não foi difícil me contextualizar. Todos aqueles pilares nascendo (cilíndricos e nem tanto, ousados e nem tanto) oferecendo um novo mundo público nas pernas dos edifícios. Pode imaginar o impacto? Eu sim.
A visão é complementar: edifício Itália e edifício Copan vistos da Praça da República. Pode imaginar a harmonia?
Como Maomé não vai à montanha, aqui estão as montanhas, Maomé:
- edifico Itália;
- edifício Eiffel;
- galeria Califórnia;
- edifício sede do IAB (Paulo Mendes está lá);
- edifício dos irmãos Roberto (por favor, não se revirem no túmulo ou na cadeira do computador...eu só não sei o nome do edifico).
Como todas as vezes em que me deparei com alguma obra que aprecio de Oscar Niemeyer, eu xinguei pela falta de elogios: “filho da mãe”. Assim foi no Parque do Ibirapuera (mais pela laje que por todo o resto), na Catedral em Brasília, no Teatro Municipal, também em Brasília (aliás, todas as obras do eixo monumental), no MAC de Niterói, enfim.
O edifício foi degradado, foi esquecido e agora está em processo e recuperação (será que o síndico era parte do projeto?) assim como todo o centro de São Paulo.
A galeria térrea é charmosa e convidativa, difícil entender o tamanho do edifício de um ângulo tão próximo.
Edifício grandioso? Sinuoso!
Dentro de um apartamento sinto o sabor dos anos modernos. O espaço resultado é surpreendente e é diferente ter a cidade em fatias na sala de estar.
De cima do Copan eu vejo. Vejo a flecha do MASP. Vejo o monte de montes verdes. Vejo o monte de entulho urbano. E penso (respondo): “sob meus pés está metade da minha cidade natal. Quão grandioso isso é!”
Edifico Harmonia. Edifício coragem. É uma intenção digna de bravos, ‘bravíssimo’. A proposta inovadora do escritório binacional Triptyque é corajosa. Por que propõe uma arquitetura viva e revigorada e porque devolve o poder da construção aos arquitetos. Não foi pedido, apenas tinha que ser feito. Já dizia Ray Charles: “como é bom ouvir alguém dizer que tinha que ser feito ao invés de ouvi-lo dizer que não seu papel”.
Dois grandes volumes de grama. É assim que vai ser. Vou poder me deitar na grama ainda de pé, e saber as estações do ano pela cidade. Por isso divido o edifício em três. Massa, requadro e passagem. Eu passo pelo requadro enquanto enquadro a massa. A passagem enquadra a massa e assim por diante. Fluxo, fluido e descanso.
Só um adendo. Só uma injustiça. Porque não é para todos? Ou, porque não nascemos em Esparta?