20.12.08

mube – paulo mendes da rocha


É preciso fazer cantar os pontos de apoio!

Já foi dito antes, inclusive por mim, mas nenhuma obra antes me tocou como essa, assim como talvez nenhuma laje jamais tocou uma empena como no Mube.

É preciso fazer cantar os pontos de apoio? O museu já seria genial enquanto praça (afirmação digna de Erick Riul). Não fossem os olhares confusos do zelo,não fosse a grade, ele seria ainda essa praça.

A luz. A gentileza. A escala do homem. A harmonia. A escala do concreto. A tecnologia. A escala da ousadia. Ah, a escala.

É preciso fazer cantar os pontos de apoio.

Mube – Paulo Mendes da Rocha.

pinacoteca do estado - paulo mendes da rocha


A intervenção é no antigo Liceu de Artes, de Ramos de Azevedo, transformando-o na Pinacoteca do Estado, de intervenção de Paulo Mendes da Rocha.

Alguns críticos do restauro podem dizer que essa intervenção descaracteriza o edifício, já que talvez um leigo desinformado não saiba que as entradas principais foram invertidas e que possam imaginar que o edifício possui aquele aspecto “descascado” desde os tempos de sua construção ou até mesmo pelas marcas do tempo, mas eu gostaria de dizer: “E daí?”

A proposta de Paulo Mendes da Rocha foi “substancial” como diria a amiga nota 100 Rachel Beatriz.

Então eu uso aqui um trecho de um texto meu de quando ainda desconhecia o espaço:

Acredito que, intencional ou não, o diálogo entre velho e novo existe na Pinacoteca do Estado de São Paulo, que a interpretação espacial do projeto classicista, seguido de ricas modificações, só pode existir se o diálogo existir, que a compreensão do potencial escondido no preexistido – tornando possível trazê-lo à tona – é fruto dessa dialética, que claramente aparece nas permanências de qualidades intrínsecas ao período anterior e em sua comunicação com as alterações propostas para que a arquitetura responda às necessidades de um programa contemporâneo.”

E me reafirmo, conhecedor agora, dizendo que o edifício agora é um corpo único todo segmentado. As clarabóias nos pátios oferecem a unicidade e as passarelas conferem o dinamismo inerente ao evento. “Tem gente pra todo lado” (esquerda, direita, pra cima, pra baixo). Usam-se os pátios hoje, usam-se as entradas laterais hoje, usa-se o vazio hoje. O vazio que só pertencia ao vazio, ao pé-direito. Pude então atravessar o edifício “como só as andorinhas podiam”.

E como não pude deixar de notar em todos os edifícios que me chamaram atenção redobrada: quanta luz! Tanta luz! Luz tanta! Luz até a estação.

passeio pelo centro de sampa


O passeio feito pelo centro da cidade me mostra como é fácil andar em São Paulo. O experimento sensorial do espaço urbano é único e a diversidade incalculável. Embora eu quisesse expressar todas as impressões causadas, vou ocultar boa parte delas e me ater aos edifícios observados (modernos).

Não foi difícil me contextualizar. Todos aqueles pilares nascendo (cilíndricos e nem tanto, ousados e nem tanto) oferecendo um novo mundo público nas pernas dos edifícios. Pode imaginar o impacto? Eu sim.

A visão é complementar: edifício Itália e edifício Copan vistos da Praça da República. Pode imaginar a harmonia?

Como Maomé não vai à montanha, aqui estão as montanhas, Maomé:

- edifico Itália;

- edifício Eiffel;

- galeria Califórnia;

- edifício sede do IAB (Paulo Mendes está lá);

- edifício dos irmãos Roberto (por favor, não se revirem no túmulo ou na cadeira do computador...eu só não sei o nome do edifico).

edifico copan - oscar niemeyer


Como todas as vezes em que me deparei com alguma obra que aprecio de Oscar Niemeyer, eu xinguei pela falta de elogios: “filho da mãe”. Assim foi no Parque do Ibirapuera (mais pela laje que por todo o resto), na Catedral em Brasília, no Teatro Municipal, também em Brasília (aliás, todas as obras do eixo monumental), no MAC de Niterói, enfim.

O edifício foi degradado, foi esquecido e agora está em processo e recuperação (será que o síndico era parte do projeto?) assim como todo o centro de São Paulo.

A galeria térrea é charmosa e convidativa, difícil entender o tamanho do edifício de um ângulo tão próximo.

Edifício grandioso? Sinuoso!

Dentro de um apartamento sinto o sabor dos anos modernos. O espaço resultado é surpreendente e é diferente ter a cidade em fatias na sala de estar.

De cima do Copan eu vejo. Vejo a flecha do MASP. Vejo o monte de montes verdes. Vejo o monte de entulho urbano. E penso (respondo): “sob meus pés está metade da minha cidade natal. Quão grandioso isso é!”

edificio harmonia - triptyque arquitetura


Edifico Harmonia. Edifício coragem. É uma intenção digna de bravos, ‘bravíssimo’. A proposta inovadora do escritório binacional Triptyque é corajosa. Por que propõe uma arquitetura viva e revigorada e porque devolve o poder da construção aos arquitetos. Não foi pedido, apenas tinha que ser feito. Já dizia Ray Charles: “como é bom ouvir alguém dizer que tinha que ser feito ao invés de ouvi-lo dizer que não seu papel”.

Dois grandes volumes de grama. É assim que vai ser. Vou poder me deitar na grama ainda de pé, e saber as estações do ano pela cidade. Por isso divido o edifício em três. Massa, requadro e passagem. Eu passo pelo requadro enquanto enquadro a massa. A passagem enquadra a massa e assim por diante. Fluxo, fluido e descanso.

Só um adendo. Só uma injustiça. Porque não é para todos? Ou, porque não nascemos em Esparta?